sábado, 10 de janeiro de 2009

Amélia Toledo e o folhear das delicadezas

Amélia Toledo, Gênesis (1959).

"A obra incorpora uma ação tangencialmente incidental - o ato de rasgar -, para confrontá-lo com a monotonia e a rigidez do quadrado, formato dentro dos padrões clássicos do objeto livro. (...) Trata-se, pois, de uma construção de sinal contrário: as mãos rasgam os pedaços quadrangulares de cor (cada folha de papel é um plano de cor), em busca de obter, o que fazem tentativamente, outras figuras geométricas de contornos inevitavelmente irregulares, toscos ou, vendo-se por outro ângulo, impregnados do calor suscitado pela ação. A cor, em função das fibras do papel que ela tem por corpo, rasga-se em porções desigualmente serrilhadas e, ao cabo de um tempo, a artista obtém um conjunto de formas coloridas e frementes, como seria de esperar de uma geometria construída à mão livre que servirá de base para as sucessivas operações de sobreposição e colagem que tomam o quadrado como baliza. Cada página virada, na qualidade de um mosaico composto de pedaços de cor de transparências distintas, anunca a seguinte enquanto promove o esmaecimento da anterior. As páginas do livro, agora conduzidas pelo 'leitor', oferecem-se como uma piscina para o salto dos olhos."
Agnaldo Farias, em "Amélia Toledo: as naturezas do artifício", 2004.

Amélia Toledo, Rosa Contemporânea - para Fernando Lemos (1965).

"Rosa Contemporânea - para Fernando Lemos (1965) explora as possibilidades temporais oferecidas por um objeto que, como uma música, só pode ser explorado na sua totalidade se o for sequencialmente. O quadrado, de 24x24 cm, de papel rugoso cor-de-rosa é a embalagem dentro da qual se encontram as páginas, pétalas secas de papel de arroz branco, todas elas com partes de um mesmo círculo recortadas em seu centro. As camadas de papel, que ao início formam a moldura espêssa e branca desse círculo rosa cavado em seu interior, gradativamente abandonam sua candidez em direção ao rosa, na razão do ritmo compassado com que são folheadas. A pressão dos nossos dedos, pegando uma a uma as folhas delicadas, levando-as desajeitadamente, porque se trata de planos diáfanos e em parte vazios, de um lado para o outro, alisando-as em seguida para que não se dobrem e não sejam amassadas pelas folhas subsequentes, vai fazendo com que tomemos consciência dos veios que atravessam as lâminas translúcidas, sua irregularidade, suas fibras, nervos estruturais que garantem a resistência de cada página."
Agnaldo Farias, em "Amélia Toledo: as naturezas do artifício", 2004.

Amélia Toledo, Divino Maravilhoso - para Caetano Veloso (1971).

2 comentários:

Mika Lins disse...

Oi,
Sou atriz e faço diarios gráficos.
Adorei seu blog.
Vou virar seguidora.
Mika Lins
Mando o endereço onde vc pode ver meus Moleskines.
http://mikalins.blogspot.com/

Simone Villani disse...

Adorei ver os cadernos afetivos.
Aproveito pra falar do Palavra Cerzida

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Simone